Cinco anos "sem" Caramelodrama
O gostinho agridoce da nostalgia e uma Casa Azul que não volta mais
Talvez você me conheça por a Caramelodrama que posta vídeos, receitas, fala de química e história da gastronomia, mas a Caramelo já teve um tanto de outros formatos e o mais marcante deles sem dúvida foi a confeitaria, que fechou suas portas em 31 de julho de 2019.
O nome Caramelodrama nasceu lá em 2010 como um blog pra registrar meu percurso nas minhas primeiras aulas de confeitaria após uns 3 anos me aventurando por conta.
No fim de 2012 eu vi pra alugar uma casa deteriorada numa rua charmosa que eu gostava muito em Curitiba, e ali fiz um sonho. Reformei e cuidei como se fosse minha apesar do proprietário não estar nem aí pra mim, e no fim de 2013 comecei a abrir o portão pelas manhãs com os joelhos moles e sem fazer alarde.
Lá dentro uma vitrine cheia de delícias, todo tipo de geleias, pães, croissants, um blend de café feito exclusivamente para nós, e gente alegre que trabalhava com gosto. Um sábado decidi postar “estamos abertos!” no Instagram e teve fila na porta, porque muita gente já me conhecia do blog e aguardava ansiosamente a abertura.
Eu não sou uma pessoa ansiosa mas nesse dia eu achei que ia ter uma crise.
Tenho uma infinidade de histórias pra contar - do prêmio que nos surpreendeu com 3 meses de casa, do concurso cultural de Dia dos Namorados onde eu pedi declarações de amor para a nossa torta de frutas vermelhas (famosa Boscolana).
Dos tantos bolos de casamento, da vez que uma caixa escorregou e abriu a porta do freezer e derrubou um entremet de casamento que precisava ser entregue dali quatro horas, eu refiz do zero em duas horas e entreguei com um sorriso no rosto e os noivos nunca souberam…
A Caramelo era mais do que uma confeitaria, era família e aconchego também pra equipe e pros clientes. Tinha gente que ia lá se consolar com uma fatia de torta e uma taça de espumante no fim de um dia pesado, muitos primeiros encontros de potenciais casais, ou passear com um bebê - quantos bebês a gente pegava no colo e entretinha pra mãe poder tomar seu café em paz?
A gente fazia “almoço de família” aos domingos, alguém fazia arroz e maionese, outro ia buscar um frango assado no mercadinho perto, e comia todo mundo meio em pé na cozinha, apoiados nas bancadas, na hora que desse. Ou todo mundo comia pastel quinta-feira cedinho antes de dar o horário. No meu aniversário encomendaram uma coxinha gigantesca e encheram de glitter…
Tinha Festa Junina, festa de Dia das Bruxas, e o Natal começava já em novembro - eu chegava e alguém tinha puxado as caixas de enfeites e tava montando tudo. Nas festas de fim de ano quem tinha que cozinhar era eu - uma vez foi carbonara, outra vez foi pizza, outra foi comida mexicana…
A última equipe são amigos até hoje - e até já vieram todos jantar aqui em casa algumas vezes. A Caramelo era assim.

Foi muita coisa. Tinha muito perrengue sim, e meus dias de trabalho duravam pelo menos dez horas, quando não doze ou mais.
Eu chegava pela manhã e antes de abrir o portão pra entrar eu respirava fundo, soltava os ombros e sabia que qualquer problema pessoal eu tinha que deixar lá fora, porque a energia da equipe refletia a minha.
Meus amigos e família só conseguiam me ver se fossem até lá - vocês assistiram The Bear? Meu nível de estresse era aquele. Eu praticamente morava lá dentro. Meu sobrinho era pequeno, foi no meu apartamento e não entendeu nada - afinal na cabeça dele eu morava numa confeitaria.
Precisei fechar em 2019 depois de uns 2 anos de declínio no faturamento mas também de declínio da minha saúde - tava com várias coisas erradas, gastrite, dor em tudo, um monte de coisas, e acabei entrando em burnout. Eu nunca tinha ouvido falar nessa palavra, mas eu acordava todo dia chorando, comecei a ter crises de ansiedade social e tudo me irritava, mas tudo mesmo. Eu não destratava ninguém (eu acho), mas não tava fácil conviver comigo mesma. Acabei no psiquiatra abaixo de remédio.
Era lindo, mas eu não tinha sócios e tocava tudo sozinha. A casa abria todos os dias, inclusive feriados, e após alguns anos a coisa ficou feia pra mim. Tive que encerrar antes que eu abrisse um buraco de dívidas e antes que eu ficasse mais doente do que estava. Foi uma decisão muito difícil, mas eu não tinha mais forças e nem condições de reinventar cardápio, reestruturar finanças, nada. Esgotei.
Anunciei o fechamento 30 dias antes e foi uma loucura. As filas dobravam a esquina. Fechávamos as portas mais cedo porque não tinha mais o que vender, não sobrava uma mísera migalha na casa.
Alguns dias precisei manter a casa fechada porque precisávamos refazer todos os doces - o esquema sólido de produção que eu tinha foi por água abaixo porque a demanda era muito maior do que conseguíamos atender!
Às vezes no caixa alguém me perguntava “mas por que vai fechar se tem esse movimento todo?” e eu sorria e respondia que se o movimento fosse assim sempre eu não precisaria fechar, né?
O carinho me surpreendeu demais - teve gente que atravessou o Brasil pra ir na Caramelo antes que fechasse. Tinha gente que chegava com lágrimas nos olhos e pedia pra me abraçar. Gente, uma confeitaria! Até hoje eu não acredito na relação que as pessoas tinham (e ainda têm) com a casa. Recebo mensagens até hoje de “saudades Caramelo”.
Foi lindo, foi uma loucura. No último dia vendemos até o último pacote de biscoitos e fizemos um brinde de limoncello - depois fomos pro bar beber (por minha conta) já que tava todo mundo sem emprego, inclusive eu.
Vendi tudo: todos os equipamentos, todos os móveis, vendi até as xícaras e os talheres - sem brincadeira. Sobraram alguns objetos que escolhi pra mim de lembrança.
Dia 31/07/2019 a Casa Azul fechou as portas e virou história.
Demorei um tempo mas acabei conseguindo me reinventar como a própria Caramelodrama, e não pretendo abrir outra casa - ela fez muito por mim como pessoa, como empresária, como profissional da cozinha, mas essa aventura acabou pra mim - a não ser que sei lá, seja um projeto com data pra começar e terminar.
Às vezes eu vejo um ponto bonitinho pra alugar e fico sonhando ali por uns minutos e imaginando como seria… Aí eu começo a desfiar na cabeça todos os passos (que agora eu já sei) e eu sei que não vale a pena.
Por 6 anos houve uma Caramelodrama maior do que eu.
Quando eu penso nela fica aquela dorzinha agridoce da nostalgia, e eu suspiro lembrando de um tempo que não volta. Obrigada, Casa Azul. Foi tudo. 🩵
Carolina Garofani | a Caramelodrama
Foi o lugar mais fofinho que Curitiba já viu. Eu adorava ir lá com minha filhota pequenininha que ficava horas lá mexendo nas coisas da Tia Carol enquanto eu comia! Não fui tanto na Caramelo quanto gostaria de ter ido, mas minha admiração pela dona do lugar é infinita!
Eu até hoje não superei o fim da Caramelodrama. Morro de saudades da casa, do concento, dos doces, até ja mandei mensagem pra você da vez que eu e meu namorado tentamos recriar um deles hehehe
Amava a casinha azul, mas mato a saudades acompanhando vc por aqui 💙