Queijo ralado fake, soro de leite y otras cositas más
Eu sei que prometi esta newsletter pra semana passada, mas eu tenho mania de querer abraçar o mundo e fazer oitocentas coisas ao mesmo tempo. O que aconteceu foi que eu resolvi abrir encomendas, e quando vi já era sexta-feira e eu tinha 17 tortas para entregar - e a receita do salmorejo e a newsletter ficaram para trás.
Enfim, aqui estamos!
Vou falar sobre um vídeo que publiquei e que deu uma certa repercussão, sobre um outro assunto que anda me incomodando e a receita do aperitivo está lá no final. Vem comigo!
Misturas lácteas e o que isso tem a ver com a nossa saúde
Semana passada publiquei um video tentando entender e explicando mais um produto absurdo que começou a aparecer nas prateleiras: a “mistura alimentícia com queijo ralado”. Me enviaram uma foto, eu não entendi nada e pedi ajuda dos seguidores para encontrar o rótulo e entender o que tinha dentro.
Só dar play:
Ou o link aqui: LINK
O vídeo deu repercussão e foi parar até no episódio “Vão te Convencer a Comer Lixo” do canal Meteoro no YouTube:
No fim das contas é apenas mais um exemplo do sucateamento da qualidade da alimentação do brasileiro, em uma situação que já está bem familiar para todo mundo. Os mercados estão cheios de misturas de creme de leite, simulacros de leite condensado, bebidas lácteas e misturas imitando leite em pó, com embalagens duvidosas que grande parte da população não consegue diferenciar. O Brasil é o maior produtos de proteína animal do mundo e também um dos maiores produtores de laticínios, mas o preço dos produtos não para de subir. Falei sobre leite condensado em um primeiro vídeo e foi a quase 3 milhões de visualizações. Uma loucura.
Em seguida alguns tweets falaram sobre isso, já que a imagem do produto tinha viralizado e as pessoas estavam se perguntando que raio era aquilo. Nada mais é, assim como outros produtos que estão tomando conta das prateleiras, do que sobras de produção compradas a preços baixíssimos para desenvolver produtos que caibam no bolso do brasileiro - mas com qualidade bem menor.
É a fome, que permeia todas as áreas da alimentação: os desertos alimentares, onde não existe acesso à comida fresca e onde a carne chega já meio apodrecida, basicamente obrigando a população a sobreviver de ultraprocessados, são os preços dos alimentos que não param de subir, é a indústria vendendo sobras e aparas para não perder margem de lucro e mercado, são 33 milhões de pessoas que não conseguem fazer 3 refeições por dia.
Vejam bem: o soro de leite não é veneno e não faz mal a saúde, e inclusive a destinação correta dele é um problema há décadas. O soro de leite sempre foi muito utilizado principalmente na alimentação de porcos por ser muito proteico, e agora é usado para fazer o caríssimo whey protein (que quer dizer literalmente (“proteína do soro”) cobrando fortunas de marombeiros no mundo inteiro. Sobra muito soro ainda - cerca de 40% - e o descarte dele não é fácil. Acho ótimo que sejam criadas soluções para diminuir este desperdício, por mais que seja de uma sobra industrial, mas não de uma maneira que induza o público ao erro, ainda mais em uma nação com estimados 30% de analfabetos funcionais. Não dá pra esperar que estas pessoas consigam interpretar um rótulo de mistura láctea ou que saibam a diferença na prateleira do mercadinho do bairro.
Pra quem quiser mais eu recomendo muito este artigo do O Joio e o Trigo: “Parece, mas não é: tem rótulo de leite, tem marca de leite, mas ninguém conhece pelo nome”.
O Joio e o Trigo também têm um podcast chamado Prato Cheio que trata justamente dessas questões do panorama alimentar no Brasil. Indispensável:
E mais ainda: Por que é tão difícil regular os ultraprocessados no Brasil?
Enfim. Tenho pensado demais nisso. Não especificamente no soro de leite, mas em como a indústria do ultraprocessado manda e desmanda no governo, e faz o oba-oba que quiser, fazendo de conta que é virtuosa e está preocupada com a alimentação do brasileiro. Não está. A tempestade perfeita de crise, pandemia, guerra, um governo que estimula a fome, o ódio e a morte nos empurra cada vez mais ladeira abaixo.
Tá muito difícil falar sobre comida e criar conteúdo sobre comida nesta situação.
Salmorejo Cordobés
Em uma nota mais leve, trouxe um aperitivo gostoso pra vocês, primo do gazpacho, aquela sopa fria de tomates e pimentão: o salmorejo. Eu nunca pude comer gazpacho porque sou alérgica - sim - a pimentas e pimentões e todas as coisas da família Capsicum.
Provei esta delícia na Espanha a mando do Alberto, marido da minha amiga Lucy. Ele foi ao supermercado e trouxe duas garrafas deste primo do gazpacho que é típico da cidade de Córdoba, capital da Andaluzia - que é de onde ele vem. O salmorejo é um aperitivo refrescante que eles bebem (comem?) muito durante os meses de calor, e é perfeito para aproveitar os tomates doces do verão e aquele pão esquecido que virou pedra no cesto. Como no Brasil faz calor com mais frequência e tomate o ano inteiro - mesmo que nem sempre sejam doces - eu consigo me perdoar por mandar esta receita para vocês em pleno mês de julho.
O salmorejo é apenas uma batida de coisas frescas no processador, e quem disser que parece molho de macarrão nunca mais pode me falar de Bloody Mary, o drink feito com justamente suco de tomate, vodka, tabasco e um talo de salsão. Salmorejo é muito melhor.
Eu voltava da rua morta de calor e de fome e enchia um copo e bebia igual suco mesmo - super ajudava a segurar a fome até resolvermos o que seria o almoço. No segundo dia o Alberto me ensinou que a maneira mais típica é com um ovo cozido picado e uns pedacinhos de jamón por cima. Foi assim que servi essa delícia para algumas amigas em um jantar. Fez sucesso, viu?
Uma dica antes de ir à receita: o salmorejo é uma preparação crua - isso quer dizer que os tomates devem ser bem lavados antes de utilizados, e que o salmorejo deve ser mantido em geladeira (e consumido gelado), e dura no máximo 3 dias. Depois disso começa a fermentar e azedar. Se você quiser fazê-lo cozido para durar mais acho que tudo bem - eu não testei mas não vejo por que teria problema.
A receita está publicada no site - tem até um botão imprimir. Clique na foto abaixo!
Ou o link está aqui:
Aqui termina esta edição - estou tentando manter curtas, prometo. Enquanto isso, que tal recomendar minha newsletter para alguém que pode se interessar?
Uma boa semana a todos, queridos. Respirem fundo.
Um beijo!
Chef Carolina Garofani